910 fogos — espaços mentais, espaços reais
Tudo começa com o corpo no espaço: 910 fogos, 2730 moradores estimados. Este é um projeto de intervenção local participado para o bairro do Alto dos Barronhos, que nasce a partir das reflexões de uma moradora. Pretende questionar o que é habitar um bairro social e projetar a transformação do espaço público — 4 praças — num espaço terapêutico. Dada a necessidade de combater o abandono e o insucesso escolar, de identificar as necessidades a nível da saúde mental, que, em tempo de pandemia, têm um ritmo crescente, e de humanizar o espaço público, apresenta-se um projeto que potencia o reforço de vínculos sociais. Com várias atividades articuladas entre si, propomos envolver a comunidade local e os profissionais que com ela se relacionam através da arquitetura, da saúde mental, da defesa do ambiente, do empreendedorismo local, da sustentabilidade e das artes, engendrando um programa inclusivo. Iremos estudar a relação casa-bairro-cidade, promovendo a sua dimensão crítica e atenta.
Objetivo geral e justificação
Reconhecendo que “Portugal é o 2º país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa” e que o Programa Nacional da Saúde Mental defende o aumento em “30% de ações no âmbito de promoção da saúde mental”, vamos implementar: atividades de combate à exclusão social pela educação, com uma rede informal de habitantes e trabalhadores no bairro do Alto dos Barronhos; ações para desmistificar o estigma associado às questões de Saúde Mental e uma estratégia inclusiva de mitigação das Alterações Climáticas através de uma série de iniciativas para um futuro sustentável. Pretendemos, nomeadamente, desenvolver mecanismos de resposta às necessidades de saúde da comunidade, situações de discriminação associadas à pertença a bairros sociais, identificando e envolvendo jovens em risco de exclusão em projetos de integração social e profissional através do empreendedorismo e das artes e apoiar técnico-cientificamente uma proposta arquitetónica de base local, integrada e sustentável.
Objetivo específico 1 e justificação
Esfera da saúde: promover a saúde assente em dois pilares essenciais, um dependente dos nossos comportamentos e, o outro, do contexto em que vivemos. “O bem-estar físico, mental e social, mais do que a mera ausência de doença…” (OMS). Esta definição vai contra o senso-comum onde se assume que estar saudável é apenas não apresentar qualquer doença. A promoção de saúde deve, pois, ser encarada de forma ampla, não é só melhorar a nossa condição física, mas também a qualidade de vida e o bem-estar. Vários estudos demonstram que as competências socioemocionais contribuem para a melhoria da condição de vida. Identificar as necessidades reais e educar para a saúde, é essencial para dotar os indivíduos de ferramentas que lhes permitam um maior acesso a cuidados, desenvolvendo competências que permitam melhorar a saúde individual e da comunidade. Indivíduos mais conscientes tendem a gerir de forma mais assertiva a sua saúde e, portanto, a melhorar a sua vida, com impacto direto no seu círculo.
Objetivo específico 2 e justificação
Esfera social: construir uma rede de relações sistémicas de resposta às necessidades identificadas na comunidade. Partimos da existência de “pessoas em situação de exclusão social, isolamento ou abandono” e de “crianças e jovens em idade escolar a não frequentar a escola ou com elevada percentagem de insucesso”, para tentar mitigar estas situações através de atividades que exponham os jovens a diversos contexto de formação não formal e que potenciem o contacto intercultural. Considerando que a dimensão social integra as restantes quatro esferas, queremos trabalhar com diversos profissionais com intervenção direta no bairro para fornecer aconselhamento, mediação e apoio técnico no sentido de combater o estigma, a violência e a discriminação. Pretendemos alargar a compreensão dos problemas e das potencialidades deste território que informam o planeamento e a concretização de medidas, programas e políticas de intervenção social. É, por isso, vital, tirar o bairro do bairro.
Objetivo específico 3 e justificação
Esfera Económica: identificar capacidades produtivas no bairro a partir de experiências vocacionais distintas. Tendo em conta a taxa elevada de “abandono escolar” e de “pessoas em situação de desemprego, lay-off ou precariedade laboral”, propõe-se o desenho de vários processos de contacto com várias áreas laborais e artísticas, através das parcerias com várias entidades. Queremos, por um lado, envolver jovens em projetos que lhes permitam perspetivar futuros profissionalmente sustentáveis — ações de empreendedorismo e sistemas experimentais de produção artística. Iremos trabalhar a auto-estima, a promoção da criatividade e a capacidade de lidar com desafios e desenvolver novas competências, implementando ações — inclusive fora do bairro — que permitam aos jovens usufruir de um contacto privilegiado com profissionais de exceção, permitindo refletir sobre o seu percurso de vida e antecipar, assim, períodos críticos no futuro, para tirar proveito de oportunidades.
Objetivo específico 4 e justificação
Esfera Ambiental: evidenciar um recurso potencial do bairro para o aumento de resiliência. Vivemos num tempo de “emergência climática” atravessado por uma pandemia e ganhámos a consciência de que o ambiente influencia todas as dimensões da vida. Assim, é fundamental pensar no espaço público do bairro — 4 praças — como um território com características particularmente relevantes para a implementação de medidas eficazes para a redução dos impactos climáticos atuais e futuros, nomeadamente o aumento da temperatura média, bem como a melhoria do conforto térmico e acústico. Assim, pretendemos promover ações de coesão no bairro que serão simultaneamente ações de educação ambiental. É, por isso, relevante projetar cenários alternativos que promovam a humanização do espaço, entendido como dispositivo de proximidade sustentável para uma comunidade intercultural e como equipamento transversal a diversas faixas etárias, minorando atos de violência e fomentando o sentido de pertença ao bairro.
Objetivo específico 5 e justificação
Esfera Urbanística: refletir sobre a relação casa-bairro-cidade de um ponto de vista crítico e motivador de soluções espaciais integradoras e sustentáveis. A coesão socioterritorial resultante da preservação dos valores socioculturais das comunidades locais, é um fator determinante da eficácia e eficiência das intervenções urbanas e, como princípio, deverá integrar as políticas públicas. O bairro municipal do Alto dos Barronhos, construído entre 2001-2008, é um caso a partir do qual se poderá refletir sobre a habitação social do futuro. Habitar é estar aberto ao outro, ao vizinho. São as pessoas que, ao transformarem o espaço, definem o sentido do habitar. Por isso, habitação e ambiente, eu e outro, são duas faces da mesma moeda. Algumas intervenções em tecidos urbanos revelaram-se graves em termos sociais e tiveram consequências nefastas tais como a desertificação noturna, a insegurança, a expulsão da população “nativa”, a segregação, a exclusão social e o aparecimento de conflitos.
Parceria local
Promotora
efabula
Parceira
Associação Jardins Abertos
Manicómio Baseado em Histórias Verdadeiras - Associação Cultural
Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à Sida
ACES LISBOA OCIDENTAL E OEIRAS
União das Freguesias de Carnaxide e Queijas
Academia Portuguesa de Cinema - Associação Portuguesa das Artes e Ciências Cinematográficas - APACC
Polícia de Segurança Pública - 83.ª Esquadra Carnaxide
Território(s) de intervenção
1. Bairro do Alto dos Barronhos
Carnaxide e Queijas, Oeiras
Critério 1. Condições de habitabilidade deficientes ou precárias, nomeadamente:
Ventilação e iluminação solar insuficientes ou baixo conforto térmico e acústico
Critério 2. Número significativo de moradores com rendimentos baixos ou muito baixos, nomeadamente:
Pessoas em situação de desemprego, lay-off ou precariedade laboral
Pessoas com poucos anos de escolaridade
Pessoas abrangidas por prestações e apoios do subsistema público da ação social
Critério 3. COVID-19
Número significativo de pessoas de risco em caso de COVID-19, nomeadamente idosos e portadores de doenças crónicas
Critério 4. Número significativo de pessoas com constrangimentos de acesso a cuidados de saúde, nomeadamente por:
Falta de condições de mobilidade e transporte
Falta de capacidade económica para aquisição de medicamentos
Critério 6. Número significativo de crianças e jovens em idade escolar a não frequentar a escola ou com elevada percentagem de insucesso, nomeadamente por:
Abandono escolar
Critério 7. Exclusão social
Número significativo de pessoas em situação de exclusão social, isolamento ou abandono, nomeadamente idosos, pessoas em situação de sem abrigo ou vítimas de tráfico
Atividades
1. Formação “Educar para a tolerância, igualdade e não discriminação” — jovens.
Desenvolvimento de 4 sessões de 3h/cada com jovens, para promover atitudes e comportamentos de tolerância, igualdade e não discriminação. Serão desenvolvidas através de dinâmicas de grupo e outras metodologias participativas de forma a provocar um auto-questionamento ao nível dos valores e atitudes subjacentes aos comportamentos discriminatórios. Pretende-se ainda desenvolver competências que lhes permitam lidar e combater estas situações. A reflexão realizada por cada um nas sessões será posteriormente expressa num projeto de criação individual realizado em parceria com o Manicómio.
Destinatários preferenciais
Jovens (18 a 24 anos)
2. Formação “Educar para a tolerância, igualdade e não discriminação” — profissionais com intervenção no bairro.
Desenvolvimento de uma sessão de 3h para profissionais com intervenção no bairro, com destaque para figuras de autoridade como as forças policiais, professores/educadores e/ou técnicos de intervenção social. O principal objetivo da sessão é promover a reflexão e auto-questionamento das suas próprias crenças e valores, potenciando o desenvolvimento de atitudes e comportamentos de tolerância e promoção da igualdade. Tal como nas sessões com os jovens, serão usadas metodologias essencialmente práticas.
Destinatários preferenciais
Adultos (25 a 64 anos)
3. Rastreios no âmbito da iniciativa internacional «Fast Track Cities – Cidades na via rápida para acabar com a epidemia VIH».
A acessibilidade e a eficiência das respostas ao VIH são fundamentais para tornar Oeiras uma cidade mais justa e resiliente. Hoje, apesar da eficácia generalizada do tratamento, é necessária uma resposta política que remova barreiras, reduza desigualdades e elimine o estigma e a discriminação. A Ser+ quer participar na resposta ao VIH, a partir de uma perspetiva local, com a colaboração de entidades governamentais e organizações comunitárias. O compromisso: acabar com a epidemia do VIH e Sida, através da melhoria do acesso às várias respostas disponíveis e também da redução da discriminação.
Destinatários preferenciais
Crianças (0 a 17 anos), Jovens (18 a 24 anos), Idosos (65 e mais anos), Adultos (25 a 64 anos), Mulheres, Famílias, Migrantes, Pessoas com deficiência, Toda a comunidade
4. Problemário — rastreio de saúde mental de base local.
Rastreio de necessidades ao nível da saúde mental de jovens e da comunidade, com a intervenção de um psicólogo — em articulação com o projeto de saúde mental PROMEHS/FMH/UL —, sabendo que as populações em situação economicamente vulnerável têm um risco acrescido no desenvolvimento de transtornos mentais, que, por outro lado, existe um enorme estigma na procura de soluções e de ajuda na resolução de problemas relacionados com esta área da saúde e, finalmente, que na atual conjuntura pandémica os números tendem a aumentar drasticamente e, de forma substancial, nestes contextos urbanos.
Destinatários preferenciais
Jovens (18 a 24 anos), Idosos (65 e mais anos), Adultos (25 a 64 anos), Mulheres, Famílias, Toda a comunidade
5. Ateliês artísticos em fotografia, escultura, desenho — combate ao estigma da doença mental.
Durante 3 meses, acontecem 3 ateliês artísticos dirigidos preferencialmente a jovens e adultos com doença mental residentes no bairro, mas aberto à comunidade, nas áreas da fotografia, escultura e desenho, culminando numa galeria de arte pública para promover uma dinâmica cultural entre o bairro e a cidade de Oeiras. A coordenação é do Manicómio, que integra artistas de várias áreas com experiência de doença mental, e para desmistificar o estigma e superar os desafios atualmente enfrentados na área da saúde mental, vai trabalhar a relação dos formandos com o tema casa-bairro-cidade.
Destinatários preferenciais
Jovens (18 a 24 anos), Adultos (25 a 64 anos)
6. Debates de arquitetura no bairro: espaços mentais — espaços reais.
Um habitat, um edifício, um bairro não constroem o habitar, mas condicionam o modo como se habita. Várias intervenções urbanas, no passado, tiveram graves impactos sociais provocando segregação e exclusão social, levando ao aparecimento conflitos. Para garantir a coesão socioterritorial é necessário resgatar os valores sociais e culturais das comunidades locais. Propomos um ciclo de 4 debates nas praças do bairro sobre a sua arquitetura e relação com a cidade, com a participação dos moradores e dos bairros vizinhos. A participação da população torna-se muito relevante nesta atividade.
Destinatários preferenciais
Toda a comunidade
7. Capacitação para a criação de negócio — Diverge Sneakers.
Formação dirigida a jovens entre os 16-24 anos que, no final, são convidados a customizar os seus próprios ténis (marca Diverge Sneakers) e colocá-los no mercado. A metodologia consiste na participação ativa no processo de criação de um produto. Pretende-se trazer ao bairro uma formação sobre capacitação e empreendedorismo, desenvolvimento de um modelo de negócio, criação de marca, criação de produto, design, comunicação interpessoal, marketing e publicidade, vendas e gestão de negócio. As vendas dos ténis criados neste âmbito, revertem para os participantes.
Destinatários preferenciais
Jovens (18 a 24 anos)
8. No meu bairro... — geografias críticas.
A Academia Portuguesa de Cinema vai coordenar a cartografia das condições de vida no bairro, através de uma série de entrevistas aos moradores com o intuito de realizar um documentário, onde cada um continua a frase ‘No meu bairro...’, incluindo propostas para a melhoria das condições de convivência e da qualidade de vida. Contributo para uma caracterização mais fina do bairro e de futuras intervenções de requalificação do espaço público. No âmbito desta atividade os jovens irão ao Cinema Ideal, em Lisboa, assistir a filmes da premiada produtora Terratreme e conversar com os seus realizadores.
Destinatários preferenciais
Jovens (18 a 24 anos), Toda a comunidade
9. Ação 4 praças — do bairro para a casa.
Iniciativas concertadas para que as 4 praças do bairro venham a ser transformadas num jardim integrando um circuito de manutenção, um parque infantil (maior do que o existente), hortas urbanas e espaços de partilha ao ar livre, reunindo as 5 esferas. Desenvolvimento da proposta arquitetónica para o espaço público, realizando-se um workshop em vasos que serão levados para casa com os Jardins Abertos e sessão de capacitação da comunidade para agir sobre os problemas ambientais locais com o cE3c. Termina com um almoço comunitário e a apresentação do documentário.
Destinatários preferenciais
Toda a comunidade