Rádio Pavão

A Rádio Pavão nasceu na EB1 do Castelo durante a pandemia e teve um papel fundamental no combate ao isolamento inesperado a que todos fomos sujeitos. Este projeto quer alargar o seu âmbito e potenciar o seu espectro de ação. Desta forma, a Rádio Pavão pretende ser uma rádio local de cariz comunitário, concebida e produzida com os residentes como instrumento de intervenção participativa. No decurso desta ação com duração de um ano, destacamos três momentos de intervenção diferenciados: A recolha e produção de conteúdos, a emissão (com regularidade semanal) e o arquivo de emissões. Aqueles que ainda habitam o bairro constituem-se como a sua memória viva, um relíquia cuja história importa recolher, dar a conhecer e conservar. A lógica das emissões será subordinada a eixos de intervenção e núcleos temáticos previamente definidos e contempla ainda projetos de mais curta duração.

Promoção da inclusão social. No âmbito deste projeto, a inclusão é entendida em múltiplas dimensões. O Bairro do Castelo, por excelência uma zona turística, enfrenta uma crise de identidade decorrente de uma descaracterização acelerada do bairro, que dificulta a apropriação do espaço público por parte dos seus habitantes e fragilizou os laços comunitários. Como resultado, temos uma população cujas coordenadas afetivas se encontram alteradas e cujos laços de pertença se esbateram. Restam no bairro poucos espaços de convívio e reunião destinados aos seus habitantes de toda a vida e um relativo alheamento, também derivado da pouca mobilidade de uma população envelhecida, face ao que o bairro (e a cidade) se tornou. A promoção de um diálogo intergeracional, o acesso às atividades propostas, a recolha e o arquivo de memória, bem como a escuta ativa das emissões constituem-se como modos de afrontar as fragilidades diagnosticadas.

Mitigação do isolamento social. O Bairro do Castelo é habitado atualmente por uma população envelhecida que apresenta fragilidades daí decorrentes, como o isolamento e a mobilidade reduzida, situações agravadas pelo contexto sanitário, mas não exclusivamente decorrentes deste. Trata-se de um bairro que sofreu alterações que tiveram como consequência, entre outras, uma redução drástica do número de habitantes (de aproximadamente 3000 para aproximadamente 300 em 20 anos). Estas alterações fragilizaram os laços comunitários que sempre caracterizaram a vida do bairro, daí resultando a necessidade da restituição possível desses laços. Este projeto visa acompanhar estas pessoas, valorizando, reconhecendo e recolhendo as suas histórias de vida, proporcionando o acesso a atividades lúdicas e culturais e promovendo o diálogo intergeracional, contribuindo assim para um envelhecimento mais ativo. Por outro lado, pretende reforçar-se o sentido comunitário através do hábito de escuta das emissões.

Educação para a cidadania. Esta comunidade apresenta fragilidades decorrentes da sua faixa etária e da sua fraca mobilidade, que a tornam especialmente vulnerável. A falta de informação e o desconhecimento de direitos que se prendem com questões relativas à habitação, à saúde ou aos serviços de que dispõem, torna importante a promoção de sessões temáticas de esclarecimento, que promovam a autonomia e a defesa de direitos essenciais em situações de potencial abuso, bem como a resolução de dúvidas ou conflitos.

Acesso à expressão artística. O acesso a diferentes formas de expressão artística (expressão plástica, literatura, música, dramatização) permitem a elaboração dos desafios enfrentados no quotidiano e são um modo privilegiado de transformar esses desafios em matéria criativa e dar-lhes visibilidade. A dimensão lúdica e cultural destas atividades permite contribuir para um apoio psicossocial efetivo a esta comunidade.

Recolha e difusão de memória. A recolha de memória de pessoas e lugares implica uma valorização dessas narrativas, conferindo-lhes dignidade e visibilidade. São uma forma de permitir que pessoas, na fase final das suas vidas, possam partilhar aquilo de que as suas vidas foram feitas. Implica também um trabalho de recolha de património imaterial que se vê assim reconhecido. As emissões produzidas a partir destas recolhas são um modo de as difundir e tornar públicas àqueles que, tendo sido residentes, foram realojados fora do bairro, mas mantêm com ele fortes laços de pertença e afeto, ao público geral e a todos os atuais residentes, promovendo assim a coesão social, o espírito de comunidade e uma identidade comum.

Conservação de memória. O trabalho de recolha de memória completa o seu ciclo e sublinha a sua pertinência acompanhado-se por um esforço de conservação. A constituição de um arquivo online de histórias de vida, de histórias do bairro, de tradições e ofícios antigos são uma forma de reunir, numa mesma plataforma, a memória do lugar e das pessoas, desenhando uma geografia de espaços e afetos em risco de extinção. A constituição deste arquivo serve também o propósito de proporcionar às gerações mais novas o contacto com esse património, trabalhando-o criativamente e devolvendo-o à comunidade como produto vivo.

Grupo Desportivo do Castelo

RADIO PAVÃO
Antropologa Rita Correia
Sounds of Tourism
Agrupamento de Escolas Gil Vicente