Um programa que aposta nas pessoas para mudar os bairros
Um programa que aposta nas pessoas para mudar os bairros
Próxima Paragem

Bairros da Ladeirinha e de São Francisco de Assis

Apostar nas relações e cidadania para melhorar os bairros

O projeto “Próxima Paragem” quer requalificar o espaço público de dois bairros de habitação social, fomentar a participação cívica dos seus moradores e estimular a importância do capital relacional.

Apoiado pelo Programa Bairros Saudáveis, dirige-se a moradores de dois bairros de habitação social, no concelho da Lourinhã, e às suas comunidades circundantes que, quer pela dinâmica relacional existente entre habitantes, quer pela pobre preservação dos espaços comuns e localização geográfica mais isolada, são bairros mais segregados, envoltos numa imagem pública negativa, com efeitos visíveis na saúde e no bem-estar individual e comunitário.

Cristina Coito e Selma Martins, coordenadoras do projeto e membros da Associação Cultural - Sombronautas, entidade promotora, pelas suas experiências em projetos de intervenção artística participados de Teatro de Sombras e Objetos, dizem-nos que “a experiência que as fruições artísticas e culturais trazem são a chave para a construção de comunidades mais sustentáveis, coesas e justas”.

Através da requalificação física pretendem criar condições para depois acontecerem melhorias no capital relacional.
“A ideia é requalificar o espaço público envolvente. Porque a maioria dos moradores não têm um sentimento de pertença ao bairro, nem à comunidade em geral, sentem-se marginalizados."

"Os bairros, quando foram construídos, não contemplaram sítios de convívio e lazer, o próprio espaço físico dos bairros inviabiliza o convívio entre moradores, propiciando muitos problemas relacionais. As crianças não brincam na rua, não socializam entre elas, porque os carros ocupam todo o espaço exterior”

Os moradores terão diversas formações: construção em pedra, jardinagem, madeira, marcenaria, serigrafia. Cristina Coito afirma que essas formações acontecem com vários parceiros/artistas, incluindo a parceria com a ESAD – Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha.

“As formações estão a acontecer e simultaneamente estamos a construir um bairro melhor, com um jardim, com equipamentos para as crianças, murais, entre muitas outras atividades. Depois disso, vamos criar várias intervenções artísticas para apresentar à comunidade mais alargada, tornando o bairro uma paragem mais próxima de todos” afirma.

Para Selma Martins, “este trabalho de conjunto contribuirá para a criação de uma comunidade mais coesa e tolerante, em que os moradores percecionem o seu valor e força enquanto grupo e que a convivência com os vários parceiros lhes dê uma visão mais alargada de possibilidades e experiências de vida”.

A Associação Locals Approach, parceira do projeto, representada por Gonçalo Folgado e João Martins, que têm vindo a desenvolver parte do seu trabalho em Lisboa e que acreditam que “as metodologias de engajamento comunitário são cada vez mais precisas nos variados contextos do território nacional”.

Para estes, o trabalho desenvolvido pelo projeto, junto das comunidades dos bairros, “tem sido fundamental para entender que, por muito diferentes que sejam os contextos territoriais, existe, por parte dos moradores, uma vontade em participar ativamente na co-construção dos seus bairros e na vida coletiva dos mesmos, que consideram essencial para a melhoria da qualidade de vida individual”.

Defendem que é pelo reforço do capital relacional que as outras melhorias podem desenvolver-se, a partir das relações de confiança intracomunitárias, mas também na articulação destas com agentes exteriores aos bairros, que podem trazer outros inputs que resultam na abertura ao exterior, capitalizando assim novas oportunidades para todos.

Mafalda Teixeira e Alexandre Audigane são a ponte institucional com o Município da Lourinhã, parceiro estratégico, pois a autarquia é quem desenvolve a gestão da habitação social e promove atividades para promoção de uma cidadania progressista. Alexandre Audigane está a trabalhar no Plano Local de Integração das Comunidades Ciganas, onde tem vindo a desenvolver o diagnóstico da comunidade cigana local, com uma incidência particularmente importante no Bairro de São Francisco de Assis, um dos contemplados neste projeto.

Atualmente admite que” o projeto, através de uma vivência mais continua e descontraída com a comunidade, permitiu expor temáticas que tinham ficado mais difíceis de percecionar através da metodologia utilizadas anteriormente, criando assim espaço para realizar já ações que tinham sido planeadas para o futuro, como pôr exemplo diminuir a inércia latente, a falta de comunicação entre os moradores e entre estes e a comunidade envolvente.”

Mafalda Teixeira defende que este projeto “vem ampliar aquilo que já seriam as intenções do Município, pois esta equipa com a pluralidade de saberes, são a conjugação favorável para estimular as competências relacionais, sociais e até profissionais dos moradores, requalificar o espaço envolvente de uma forma participada e criar nestes territórios produtos e atividades artísticas capazes de fomentar uma cidadania mais participativa e uma sociedade mais inclusiva. E este trabalho só faz sentido numa linha de democracia e urbanismo de proximidade."