N. 580/2020

Tipo de projeto e valor máximo de financiamento

Projeto integrado (máximo 50.000 Euros)

Eixos de intervenção em que se enquadra o projeto

Financiamento

Valor solicitado

50.000,00 €

Valor de outros financiamentos

2.912,00 €

Valor total

52.912,00 €
Mapa de localização da candidatura


Mapa das candidaturas financiadas


Registos

Mulheres em Construção!

A questão da habitação revelou-se prioritária para enfrentar a pandemia da COVID-19. As mulheres são quem cuida e quem mais tempo passa em casa, sofrendo com a precariedade das habitações e dependentes nas ações de manutenção. São as primeiras afetadas pelo desemprego em situações de crise. Destinada ao Bairro de Santiago em Aveiro, a proposta consiste em: formação certificada na construção civil para mulheres em risco laboral; reabilitação de imóvel para uso comunitário; criação de banco de materiais de construção; e formação em Igualdade de Género para formandas, parceiras e trabalhadores de empresas locais. Objetiva-se desconstruir estereótipos de género, promover autonomia e saúde, capacitar para o (auto) emprego, impulsionar vínculos comunitários e melhorar o habitat de muitas famílias, inserindo-se em 5 eixos de intervenção. As ONG locais identificaram as formandas, o local a reabilitar e as moradoras, trabalhadoras civis, que acompanharão a estrutura letiva e/ou farão formação.

Objetivos

Objetivo geral e justificação

Formar e capacitar mulheres em situação de risco laboral, em técnicas de projeto e construção civil, para a realização autónoma de melhorias nas habitações em que residem, para a profissionalização e emprego nesta área carente de mão-de-obra em Portugal. Simultaneamente, reabilitar um espaço para uso comunitário e criação de um banco de materiais gerido por associações locais. O projeto articula todos os eixos de intervenção: apoia mulheres em novas saídas profissionais e integra socialmente (Económico); promove a saúde física e mental do agregado familiar através da melhoria da qualidade espacial e material da casa e espaços coletivos (Saúde); fortalece a interacção entre a população e o sentido comunitário (Social); fomenta o uso de materiais e modos de construir com maior eficiência energética e hídrica (Ambiental); reforça a igualdade de género, a autoestima e a dignidade da população do bairro, que sendo um território segregado, carece de qualificação urbana (Urbanístico).

Objetivo específico 1 e justificação

Empoderar. Capacitar as moradoras em vulnerabilidade laboral, para a inserção no mercado de trabalho ou criação de autoemprego e ampliação das oportunidades profissionais, de rendimentos e de vida. Nos Princípios de Empoderamento das Mulheres, a ONU Mulheres estabelece (i) tratamento justo de todas as pessoas no trabalho, respeitando os direitos humanos e a não-discriminação; (ii) educação e desenvolvimento profissional para as mulheres; (iii) apoio ao empreendedorismo e incentivo de políticas de empoderamento das mulheres, promovendo a participação nas tomadas de decisões; e (iv) promoção da igualdade de género através de iniciativas direcionadas à comunidade e ao ativismo social. A formação em Igualdade de Género reforçará a tomada de consciência individual das relações sociais de género e a formação técnica certificada e a integração no setor da construção civil procurarão fortalecer o lugar das mulheres na família e na comunidade, influenciando o futuro da sociedade como um todo.

Objetivo específico 2 e justificação

Criar comunidade. Fortalecer a criação de redes de entreajuda profissional e comunitária, com a reabilitação de um espaço para uso coletivo, garantido e disponibilizado pela IPSS parceira Florinhas do Vouga, como módulo final da formação especializada em técnicas de construção civil para mulheres do Bairro de Santiago. O exercício será realizado pelas formandas, com acompanhamento técnico de formadoras/es e trabalhadoras/es da construção civil do bairro. No futuro, prevê-se que este espaço atenda aproximadamente um quarto das famílias do bairro. Será dinamizado e gerido pela Florinhas do Vouga e funcionará como local de encontro, de promoção de oficinas e aulas temáticas e abrigará o banco comunitário de materiais e ferramentas de construção. A gestão das requisições e doações de materiais e ferramentas para este banco será gerido pela associação cultural Mon Na Mon, mediante compromisso formalizado durante o desenvolvimento do projeto.

Objetivo específico 3 e justificação

Formar para a construção. Oferecer formação técnica e certificada a mulheres em diversas áreas da construção civil. Em primeiro lugar, importa capacitar para noções básicas de projectos de arquitectura e para conceitos urbanísticos fundamentais, promovendo o uso do conhecimento acumulado sobre o território em questão. Objetivo orientado para saber ler os espaços quotidianos, privados e públicos, com perspectiva de género, identificar necessidades, prioridades e propor estratégias de intervenção integradas e fundamentadas. Em segundo lugar, formar de modo integrado para áreas básicas da construção civil como: segurança no trabalho, acabamentos em paredes, pinturas, canalização e electricidade. Cada módulo finalizará com a aplicação de conhecimentos, quer em sessão prática quer em visitas de estudo temáticas. Uma formação teórico-prática mais ampla proporcionará às formandas terminar com um quadro geral das especialidades que integram e que se articulam numa obra de construção civil.

Objetivo específico 4 e justificação

Formar para a igualdade. O trabalho em construção civil é tradicionalmente masculino pelo que um dos desafios deste objectivo é capacitar as mulheres formandas e homens trabalhadores do bairro e de empresas apoiantes através da partilha da formação, com o propósito de desconstruir estereótipos de género e valores perpetuadores de desigualdades muito presentes nos contextos de trabalho da construção civil. Importa revelar que as profissões não têm género mas têm sido culturalmente direcionadas para mulheres e homens como revela o projeto da parceira CIG, “Engenheiras por um Dia”. A tomada de consciência das mulheres é fundamental para a sua autonomia e valorização pessoal e profissional. Outro desafio será apresentar, em conjunto com a CIG, os resultados do projeto nas escolas do bairro. Formar para a igualdade de género é fundamental para melhor integração das mulheres em ambientes de trabalho mais igualitários, para a construção de uma sociedade saudável, justa e plural.

Objetivo específico 5 e justificação

Qualificar para a saúde. Instruir para melhorias e qualificação do habitat e promoção das suas condições de higiene, ventilação, manutenção e salubridade. A pandemia evidenciou o papel nevrálgico das mulheres na redução do impacto da desigualdade e da segregação espacial/territorial na saúde dos seus agregados familiares, da vizinhança e dos seus bairros. O projecto responde à crise provocada pela COVID-19 pois: (i) as mulheres são as mais afectadas pela precariedade habitacional, acumulando a responsabilidade dos trabalhos do cuidar, informais e não remunerados; (ii) a habitação de qualidade e acesso universal é imprescindível para enfrentar a pandemia na prevenção do contágio, em situações de infeção, confinamento, teletrabalho e/ou tele-escola;; (iii) elas são as primeiras afetadas pelo desemprego e pelo risco de situação de pobreza - e, por conseguinte, toda a família dependente, fato muitas vezes agravado por doença ou envelhecimento como constata o diagnóstico do bairro.

Parceria local

Promotora

Mulheres na Arquitectura

Parceira

União de Freguesias de Glória e Vera Cruz
Florinhas do Vouga
Mon Na Mon - Associação de Filhos e Amigos da Guiné-Bissau
Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património
Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género

Território(s) de intervenção

1. Bairro de Bairro de Santiago, o maior complexo de habitação social em Aveiro, composto por 858 famílias que habitam fogos - privados, municipais e IHRU -, espaços semi-públicos e espaços públicos em estado de conservação variável e desigual.

Glória e Vera Cruz, Aveiro
Critério 1. Condições de habitabilidade deficientes ou precárias, nomeadamente:
Mau estado das habitações, por deficiente construção, falta de manutenção ou por estarem situadas em territórios afetados por incêndios nos últimos cinco anos
Exiguidade do espaço habitável
Desadequação severa dos espaços comuns
Ventilação e iluminação solar insuficientes ou baixo conforto térmico e acústico
Critério 2. Número significativo de moradores com rendimentos baixos ou muito baixos, nomeadamente:
Pessoas em situação de desemprego, lay-off ou precariedade laboral
Pessoas com poucos anos de escolaridade
Pessoas abrangidas por prestações e apoios do subsistema público da ação social
Critério 3. COVID-19
Número significativo de pessoas de risco em caso de COVID-19, nomeadamente idosos e portadores de doenças crónicas
Critério 4. Número significativo de pessoas com constrangimentos de acesso a cuidados de saúde, nomeadamente por:
Falta de condições de mobilidade e transporte
Falta de documentação ou barreira linguística
Falta de capacidade económica para aquisição de medicamentos
Critério 6. Número significativo de crianças e jovens em idade escolar a não frequentar a escola ou com elevada percentagem de insucesso, nomeadamente por:
Falta de condições para aceder ao ensino a distância
Critério 7. Exclusão social
Número significativo de pessoas em situação de exclusão social, isolamento ou abandono, nomeadamente idosos, pessoas em situação de sem abrigo ou vítimas de tráfico

Atividades

1. Organizamos e divulgamos! Organização geral, identificação de destinatárias/os e formandas/os. Pretende-se consolidar a articulação entre entidades parceiras, compor o grupo de formandas e preparar o material de comunicação e de apoio às formações.

Desenvolvimento da imagem gráfica e suportes de comunicação físicos e virtuais (site e redes sociais); Divulgação através da fixação de cartazes nos edifícios, comércios e pontos de encontro; Realização de evento de apresentação do projeto à comunidade; Inscrição de destinatária/os (Junta de Freguesia, Florinhas do Vouga e Mon Na Mon); Gestão de pedidos de apoio às empresas de materiais de construção (Mon Na Mon e MA); Elaboração do material de apoio às formações (kit com caderno, fita métrica, material de desenho, capacete de obra, etc.) e workshops (manuais, cadernetas, jogos, etc).
Destinatários preferenciais
Adultos (25 a 64 anos), Mulheres, Migrantes, Toda a comunidade

2. Formamos para a Igualdade!

Formação em Igualdade de Género orientada para a construção civil, ministrada pelo IEFP, destinada às formandas, formandos, representantes das entidades promotoras, parceiras e trabalhadores do setor da construção do bairro e das empresas apoiantes, com o objetivo de sensibilizar para as questões de igualdade, identificar barreiras, discutir e desconstruir estereótipos e refletir sobre as transformações e oportunidades necessárias para atrair as mulheres para a construção, assim como preparar o setor, tradicionalmente masculino, para acolhê-las igualitariamente.
Destinatários preferenciais
Adultos (25 a 64 anos), Mulheres, Migrantes

3. Mulheres na Construção! Percurso formativo desde a capacitação para a perspectiva de género nas formas de habitar o corpo, a casa e a cidade; construção de diagnóstico sobre problemas reais das formandas e formação técnica aplicada a este diagnóstico.

Formação básica transversal em: i) espaço público e habitação, direitos e políticas públicas, cidadania, género, identidade, autonomia; ii) leitura de desenhos técnicos, levantamento de quantidades e orçamentação. (MA) Realização de diagnóstico participado dos problemas vividos pelas formandas em suas habitações e na forma de vivenciar o bairro (MA) 5 módulos de técnicas básicas de construção civil escolhidas pelo grupo de destinatárias a partir do diagnóstico prévio - paredes, pintura, elétrica, canalização, segurança no trabalho, etc. (IEFP)
Destinatários preferenciais
Mulheres, Migrantes

4. Pensamos espaços quotidianos saudáveis! Atividades complementares com o objetivo de consolidar o conhecimento obtido nas formações anteriores, experimentar na prática, na partilha e na cooperação as diversas possibilidades de aplicar as aprendizagens.

Caminhada exploratória, discussão e diagnóstico do espaço público do bairro (MA); Visita a uma obra em fase de construção com três trabalhadoras da construção civil residentes no bairro, conversa sobre a experiência de ser mulher na construção: cooperativismo, empreendedorismo, emprego, auto-emprego (trabalhadoras e MA); Workshops: Pensar a saúde a partir da habitação (MA); Inspeção e diagnóstico de edifício ou habitação, aquisição de competências na deteção de anomalias, conhecimento das causas de dano e seus efeitos mais comuns para execução de caderno de encargos de reparações (APRUPP).
Destinatários preferenciais
Mulheres, Migrantes

5. Projetamos Santiago! Projeto participado de reabilitação de espaço para uso comunitário.

O programa será definido de forma participada com a comunidade, que identificará as necessidades para o espaço, além do banco de materiais. O projeto será desenvolvido de forma colaborativa pelo grupo de formandas com o apoio das entidades promotora e parceiras. O grupo terá a oportunidade de aplicar o conhecimento com complexidade, desde o diagnóstico, discussão sobre alternativas de projeto e desenho, levantamento de quantidades, orçamentação, negociação e aquisição de materiais e serviços. Nesta atividade também discutir-se-á a forma de gestão do espaço pós conclusão da obra.
Destinatários preferenciais
Mulheres, Migrantes, Toda a comunidade

6. Revitalizamos Santiago! Obra de reabilitação de uma loja do bairro, de piso térreo e para uso comunitário.

A obra de reabilitação do espaço será executada pelo grupo de formandas com o apoio técnico contratado do grupo informal de trabalhadoras e trabalhadores da construção civil do bairro - propiciando vínculos cooperativos no território e valorização do conhecimento local - assim como com o acompanhamento das entidades promotora e parceiras. Pretende-se envolver as empresas de construção de Aveiro que apoiaram o projeto com doações de materiais, para que, durante a atividade se avalie a possibilidade de inclusão das formandas em estágios e/ou outros encaminhamentos profissionais nessas empresas.
Destinatários preferenciais
Mulheres, Migrantes, Toda a comunidade

7. Mulheres de Santiago - da casa ao debate público!

Produção de tutoriais, em vídeos e manual, para ampliação do acesso a conteúdos explicativos sobre as técnicas de construção aprendidas, aumentando o número de beneficiárias/os alcançados pelo projeto; Realização de eventos de apresentação dos resultados do projeto: i) na escola do bairro - EB1 Santiago - com a parceria da CIG, desconstruindo estereótipos de género e criando referências mais plurais para a realização profissional; ii) Encontro final e debate com comunidade local, com todos os grupos e entidades envolvidas, convidados institucionais e movimentos pela habitação.
Destinatários preferenciais
Mulheres, Migrantes, Toda a comunidade