Caminho das Escadinhas
O processo de uma iniciativa que combina arte, arquitetura e natureza
O INSTITUTO promove a criação de um novo lugar de convívio, repouso e usufruto da natureza, no bairro do Monte Xisto, em Matosinhos. Este refúgio, realizado em parceria com arquitetos, artistas e construtores locais, consiste num percurso que liga uma escada pública existente, até uma antiga ruína, na margem do rio Leça.
O INSTITUTO, espaço cultural gerido pela Tamanho Azul – Associação, no Porto, estabelece uma parceria com um grupo de construtores do Monte Xisto, bairro periférico de Matosinhos, no sentido de requalificar um acesso pedonal em escada, e a sua ligação com uma zona de repouso, na margem do rio Leça. Esta iniciativa procura demonstrar a mais-valia que os projetos realizados com meios escassos podem trazer aos espaços urbanos mais “escondidos” e negligenciados das nossas cidades.
Vídeo do processo do Caminho das Escadinhas, editado por João Ana, produzido por INSTITUTO.
Numa primeira fase, foram realizados encontros e ações de divulgação do projeto junto da população, explicando as motivações da equipa e chamando à participação popular nas intervenções que se pretendiam fazer. Organizaram-se visitas ao local com o gabinete de arquitetura de Paulo Moreira, e a equipa de construtores locais liderada pelo sr. José Silva, em articulação também com a União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões. Fizeram-se medições e levantamentos, desenhos e maquetes que traduzem as ideias e soluções para o local, antes de se dar início aos trabalhos.
Na primeira fase da obra, procedeu-se à requalificação das escadas que culminam a Rua das Escadinhas, um dispositivo urbano peculiar, acesso entre as cotas alta e baixa da encosta poente do Monte Xisto. O projeto consistiu na reparação de degraus e corrimão, bem como na criação de um novo limite entre a escada pública e o terreno privado vizinho, criando-se uma estrutura de bancos convidando ao usufruto da própria escadaria como lugar de repouso.
Seguindo o trilho que liga o sopé da escada ao rio Leça, recuperou-se uma antiga ruína, transformando-a numa zona de convívio, no meio da natureza. A limpeza do terreno e da ruína foi um desafio de enormes proporções. O volume de lixo, entulho e vegetação acumulado ao longo de mais de quatro décadas de abandono, tornava o local intransitável e impassível de qualquer uso por parte da população. Foram retirados 24 metros cúbicos de resíduos naturais e entulho de mistura, para que fosse possível “abrir caminho” para o usufruto do local.
A limpeza foi além da edificação e promoveu de facto a despoluição da margem do rio e a valorização da paisagem natural. Após o trabalho de retirada de lixo e entulho, foi realizada a consolidação das ruínas. Pequenas intervenções permitiram devolver ao conjunto o seu carácter original, despindo-o de intervenções precárias que se foram acumulando ao longo dos anos.
O trabalho cuidado de recuperação promove a permanência no local, através da instalação de bancos em todos os “quartos” da edificação, conferindo-lhe uma função de socialização. A obra foi complementada com intervenções artísticas do coletivo Verkron, através de pinturas murais que valorizaram e criaram uma atmosfera única.
A intervenção dos artistas reforça a interligação entre arquitetura, arte e natureza. A obra foi inspirada na história do local, que em tempos foi conhecido como “a casa da preta”. Procurou-se desmistificar uma história “sombria”, através da explosão de cor e de formas geométricas, elas próprias interpretando e enfatizando o conjunto urbano da zona envolvente. Com esta intervenção, a ruína voltou a ser “casa”, convidando ao usufruto da natureza num bairro onde escasseiam os espaços verdes e abertos, apesar da proximidade com a natureza. A “explosão” de cores estendeu-se às “escadinhas”, materializando a ligação entre a natureza e o bairro.