IMG_7 Coletivo Verkron a pintar a escada.
IMG_7 Coletivo Verkron a pintar a escada.
Entre a Natureza e a Cidade: Percursos Pedonais do Monte Xisto

Caminho das Escadinhas

O processo de uma iniciativa que combina arte, arquitetura e natureza

O INSTITUTO promove a criação de um novo lugar de convívio, repouso e usufruto da natureza, no bairro do Monte Xisto, em Matosinhos. Este refúgio, realizado em parceria com arquitetos, artistas e construtores locais, consiste num percurso que liga uma escada pública existente, até uma antiga ruína, na margem do rio Leça.

O INSTITUTO, espaço cultural gerido pela Tamanho Azul – Associação, no Porto, estabelece uma parceria com um grupo de construtores do Monte Xisto, bairro periférico de Matosinhos, no sentido de requalificar um acesso pedonal em escada, e a sua ligação com uma zona de repouso, na margem do rio Leça. Esta iniciativa procura demonstrar a mais-valia que os projetos realizados com meios escassos podem trazer aos espaços urbanos mais “escondidos” e negligenciados das nossas cidades.

Vídeo do processo do Caminho das Escadinhas, editado por João Ana, produzido por INSTITUTO.

Numa primeira fase, foram realizados encontros e ações de divulgação do projeto junto da população, explicando as motivações da equipa e chamando à participação popular nas intervenções que se pretendiam fazer. Organizaram-se visitas ao local com o gabinete de arquitetura de Paulo Moreira, e a equipa de construtores locais liderada pelo sr. José Silva, em articulação também com a União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões. Fizeram-se medições e levantamentos, desenhos e maquetes que traduzem as ideias e soluções para o local, antes de se dar início aos trabalhos.

Maquetes de trabalho construídas em cimento pela equipa de arquitetos.
Maquetes de trabalho construídas em cimento pela equipa de arquitetos.

Na primeira fase da obra, procedeu-se à requalificação das escadas que culminam a Rua das Escadinhas, um dispositivo urbano peculiar, acesso entre as cotas alta e baixa da encosta poente do Monte Xisto. O projeto consistiu na reparação de degraus e corrimão, bem como na criação de um novo limite entre a escada pública e o terreno privado vizinho, criando-se uma estrutura de bancos convidando ao usufruto da própria escadaria como lugar de repouso.

“Escadinhas” durante a obra de reparação, com novo limite que serve de banco.
“Escadinhas” durante a obra de reparação, com novo limite que serve de banco.

Seguindo o trilho que liga o sopé da escada ao rio Leça, recuperou-se uma antiga ruína, transformando-a numa zona de convívio, no meio da natureza. A limpeza do terreno e da ruína foi um desafio de enormes proporções. O volume de lixo, entulho e vegetação acumulado ao longo de mais de quatro décadas de abandono, tornava o local intransitável e impassível de qualquer uso por parte da população. Foram retirados 24 metros cúbicos de resíduos naturais e entulho de mistura, para que fosse possível “abrir caminho” para o usufruto do local.

Limpeza e retirada de lixo da antiga ruína na margem do rio Leça.
Limpeza e retirada de lixo da antiga ruína na margem do rio Leça.

A limpeza foi além da edificação e promoveu de facto a despoluição da margem do rio e a valorização da paisagem natural. Após o trabalho de retirada de lixo e entulho, foi realizada a consolidação das ruínas. Pequenas intervenções permitiram devolver ao conjunto o seu carácter original, despindo-o de intervenções precárias que se foram acumulando ao longo dos anos.

Estado de ruína em que se encontrava o conjunto edificado junto à margem do rio.
Estado de ruína em que se encontrava o conjunto edificado junto à margem do rio.

O trabalho cuidado de recuperação promove a permanência no local, através da instalação de bancos em todos os “quartos” da edificação, conferindo-lhe uma função de socialização. A obra foi complementada com intervenções artísticas do coletivo Verkron, através de pinturas murais que valorizaram e criaram uma atmosfera única.

Usufruto do novo espaço de convívio.
Usufruto do novo espaço de convívio.

A intervenção dos artistas reforça a interligação entre arquitetura, arte e natureza. A obra foi inspirada na história do local, que em tempos foi conhecido como “a casa da preta”. Procurou-se desmistificar uma história “sombria”, através da explosão de cor e de formas geométricas, elas próprias interpretando e enfatizando o conjunto urbano da zona envolvente. Com esta intervenção, a ruína voltou a ser “casa”, convidando ao usufruto da natureza num bairro onde escasseiam os espaços verdes e abertos, apesar da proximidade com a natureza. A “explosão” de cores estendeu-se às “escadinhas”, materializando a ligação entre a natureza e o bairro.