Rizoma Cooperativa Integral
Um modelo de comunidade e democratização económica
A Cooperativa Rizoma nasce num contexto pandémico, de incerteza e distanciamento físico, tendo como objetivo a redução de problemas sociais, económicos e culturais.
O sonho começou antes do mundo inteiro se isolar de um vírus, mas a pandemia da covid-19 realçou ainda mais as desigualdades na nossa sociedade e levou-nos a reavaliar a forma como vivemos, trabalhamos e consumimos.
Assim nasce, em novembro de 2020, a Rizoma Cooperativa Integral: uma cooperativa multissectorial, sem fins lucrativos, com o intuito de fornecer à comunidade local uma ferramenta democrática capaz de desenvolver os seus próprios projetos, numa economia comunitária e solidária.
Como um verdadeiro caule que cresce horizontalmente, a Rizoma tem planos para as áreas do comércio, agricultura, habitação e cultura — de forma a abranger todas as áreas da vida socioeconómica —, mas foi na secção de consumo que se criou e desenvolveu o primeiro grande projeto.
Chamam-lhe Mini-Rizoma, mas é o resultado de uma grande vontade em transformar o sistema alimentar, de forma a garantir uma alimentação saudável, sustentável e a preços justos para quem consome e produz, através da colaboração direta entre produtores e consumidores.
A Mini-Rizoma é o projeto-piloto de uma mercearia comunitária, participativa e autogerida, baseada em valores sociais, ecológicos e colaborativos, com vista à preservação dos ecossistemas. Todos os membros participam no trabalho e na tomada de decisões, e apenas os membros têm o privilégio de consumir.
De portas abertas desde fevereiro de 2021, na Mouraria, este sonho tornado realidade é o primeiro projeto da cooperativa integrado na secção de consumo que pretende agora ser grande, e mudar-se para Arroios.
O modelo para ser autogerido não é novo e faz sucesso em muitos países dentro e fora da Europa, mas a Rizoma orgulha-se de ser a primeira mercearia comunitária em Portugal e distingue-se essencialmente pela sua inovação transversal.
As pessoas têm acesso a alimentos locais, sustentáveis e saudáveis; existe envolvimento ativo dos consumidores com produtores, tornando-se todos mais conscientes dos impactos do sistema alimentar; dá-se apoio aos produtores locais de pequena escala, garante-se um escoamento de produção; reduz-se o uso de embalagens e evita-se o desperdício alimentar; fomenta-se uma coesão socioterritorial ao propor um espaço comunitário inclusivo de encontro e informação, como o trabalho colaborativo entre cooperantes e, não menos importante, tudo é totalmente transparentes quanto à informação sobre todos os produtos e gestão do projeto.
O Futuro de uma Democracia Económica Integrada
A ideia é promissora e o sonho requer resiliência e, não raras vezes, a explicação parece confusa para quem desconhece o funcionamento de uma cooperativa. Bernardo Fernandes, membro-fundador da Rizoma explica como o modelo funciona e de que forma se organizam: «A nossa cooperativa, enquanto organização económica democrática, respeita o princípio de “um membro - um voto” independentemente do montante investido. Não obstante, e por decisão interna, todas as decisões estratégicas são decididas por consentimento em reuniões gerais mensais. Neste modelo, uma decisão só avança se ninguém se opuser. Os membros são convidados a envolverem-se ativamente na organização e gestão de toda a cooperativa, podendo integrar um, ou mais, dos diferentes grupos de trabalho: comunidade, comunicação, IT, espaço, finanças, membros, governança e produtos."
Parece quase utópico, mas o sonho que começou apenas com 40 cooperantes é hoje uma realidade que conta com 230 membros, de diversas nacionalidades e idades, distribuídos em várias secções da cooperativa, porque muito mais do que uma mercearia, a Rizoma é uma cooperativa integral e abrange vários sectores de atividade, procurando facilitar aos membros o seu envolvimento numa economia local mais resiliente, circular, justa e inclusiva, de forma a combater o que mais aflige o nosso território: precariedade económica e laboral, segregação, isolamento social e má alimentação. Atualmente, oferecem mais de 590 produtos sustentáveis na loja a preços competitivos, colaboram e apoiam mais de 80 produtores locais, com práticas sustentáveis — ecológica e socialmente — e estão prontos para fazer crescer um futuro mais democrático. Como diz Claraluz Keiser, outra membro-fundadora da cooperativa, "comprar na Rizoma é um ato político", porque se a resiliência é uma prioridade política, então a criação de condições favoráveis para o crescimento das cooperativas também deveria ser. Se devemos seguir as evidências, as cooperativas têm todos os componentes-chave para reconstruir a nossa economia para um futuro justo e equitativo para tudo.
Qualquer pessoa pode fazer parte da Cooperativa Rizoma, bastando para isso inscrever-se numa sessão de boas-vindas, na qual será explicado todo o funcionamento do projeto. Também podem acompanhar nas redes sociais as diversas iniciativas e eventos que organizam. Se, ainda assim, é preciso ver para crer, pode visitar a Mini-Rizoma no Beco do Rosendo, na Mouraria, e aproveitar para trocar dois dedos de conversa com os membros.