Sem Adubos
Melhorar a qualidade de vida da população com foco na horticultura
O projeto, inserido na iniciativa Bairros Saudáveis, tenciona desenvolver a atividade comunitária nestes bairros da vila de Oliveira de Frades como forma de combater o isolamento das suas populações.
Março é um mês importante no calendário agrícola: marca o início da primavera, do renascer das terras, constituindo-se em geral como a época plena de sementeira. Também tem sido um mês aguardado nos bairros da Devesa e da Remolha, onde desde dezembro está a ser implementado o projeto Sem Adubos. Com o projeto da estufa e o primeiro horto escolar já prontos, dá-se início à fase mais desejada: a do cultivo.
Com foco na horticultura e jardinagem local e através da criação, além de uma estufa, de vários hortos escolares, mercados comunitários e projetos de embelezamento de vários espaços públicos, o projeto Sem Adubos, inserido na iniciativa Bairros Saudáveis, tenciona desenvolver a atividade comunitária nestes bairros da vila de Oliveira de Frades como forma de combater o isolamento das suas populações.
Uma das primeiras tarefas associadas ao projeto, a construção de uma estufa para produção de hortícolas perto da entrada do Centro Escolar de Oliveira de Frades, está concluída. Esta é uma horta onde os alunos podem aprender sobre a produção agrícola em pequena escala e participar na produção dos alimentos vegetais. A criação de hortos escolares, já em andamento, também pretende promover uma proximidade maior desta aprendizagem, bem como estimular o interesse das crianças no consumo de vegetais.
Nas fases seguintes do projeto, que incluem a construção de uma estufa comunitária para produção de hortícolas e o envolvimento da população na produção de excedentes para um mercado de produtos locais, o foco estará em promover o encontro de proximidade entre produtor e consumidor, encurtando as cadeias de distribuição e desenvolvendo uma rede de distribuição ecológica e economicamente sustentável.
O mercado estará situado perto do centro da vila de Oliveira de Frades e procurará fornecer a maior variedade possível de produtos, com o critério fundamental de estes serem originários de uma produção local. Com a ajuda da estufa será possível manter alguns produtos disponíveis mesmo fora de época; e, com as práticas biológicas, garantem-se produtos saudáveis e caseiros, promovendo a saúde e a qualidade da alimentação dos potenciais consumidores.
O projeto procura ainda, num futuro próximo, criar um banco de sementes de variedades de legumes locais que possam estar a perder-se. Este banco funcionará como um laboratório para unir as práticas sustentáveis e biológicas às práticas tradicionais, disseminando uma horticultura saudável e ecológica.
Plantar para o bem-estar
A crescente urbanização e a alteração dos estilos de vida em função do desenvolvimento tecnológico tem levado ao desaparecimento das práticas de produção alimentar autossustentáveis. Hoje, o fator prático da compra no supermercado supera já o consumo de alimentos caseiros, embora estes continuem a ser percecionados pela maioria da população como sendo de qualidade superior. O facto é que as práticas de produção alimentar em pequena escala continuam a ser de grande importância, não só para as comunidades locais e para o ecossistema como para os indivíduos que as levam a cabo.
Os benefícios das pequenas atividades agrícolas são variados e estão, aliás, bem estudados: vão da melhoria do bem-estar físico e mental à promoção de uma dieta equilibrada, o que faz das hortas uma mais-valia para as comunidades e, individualmente, para as pessoas. O projeto Sem Adubos foi criado também com o intuito de promover estas atividades, e ainda com o objetivo de recolher os benefícios de englobar nelas tanto as populações envelhecidas como as mais jovens.
Outros objetivos deste projeto passam por promover mais hortas e jardins biodiversificados e por reavivar e difundir práticas que, em breve, poderiam cair no esquecimento. Nos bairros da Devesa e da Remolha será criado um planeamento para reabilitar e manter, com a ajuda da população local, diversos espaços públicos amigos do ambiente, de forma a promover não só o embelezament, mas, sobretudo, o equilíbrio ecológico, através da promoção de polinizadores, atração de predadores de pestes e aumento da biodiversidade da fauna e flora.
Ao envolver a população local, em especial nos bairros da Devesa e da Remolha, na tomada de decisões e na cadeia de produção/distribuição de alimentos, veremos crescer a atividade e envolvimento social dos habitantes mais isolados e envelhecidos, que podem continuar a contribuir para a comunidade das mais diversas formas: desde a partilha de conhecimentos tradicionais ao desenvolvimento de redes de entreajuda.
Muitas vezes, pessoas mais envelhecidas tendem a abandonar as atividades de jardinagem e horticultura por degradação física, o que não lhes permite realizar algumas das atividades essenciais para um pequeno cultivo. Com a criação de uma associação colaborativa, o projeto propõe também uma contribuição da comunidade para a melhoria da vida destes habitantes, ajudando-os, caso o desejem, a realizar as atividades fisicamente mais intensas, de forma a poderem continuar a plantar e cuidar do seu jardim ou horta, mantendo assim uma atividade física, social e mental saudável.