Da esquerda para a direita, Fernanda, Nuno, Bernardo, Lara, Fernando e Jacinta, no dia da assembleia fundadora da CATHU, a 13 de dezembro de 2020.
Da esquerda para a direita, Fernanda, Nuno, Bernardo, Lara, Fernando e Jacinta, no dia da assembleia fundadora da CATHU, a 13 de dezembro de 2020.
CATHU

Cooperativismo

Um encontro entre arquitetura, cooperativismo e direito à cidade? Eis a CATHU

Nasceu uma cooperativa de assessoria técnica, que fomentará estratégias de participação popular para melhoria das condições de vida das populações, fazendo do projeto e estaleiro, escola e festa.

Surge da iniciativa de seis arquitetos — Bernardo Amaral, Fernanda Petrus, Fernando Pimenta, Jacinta Reis, Lara Ferreira e Nuno Patrício —, e tomaram a oportunidade do Programa Bairros Saudáveis para o seu berço, com o desafio de reabilitar um edifício devoluto para habitação para rendas de baixo custo em Campanhã, no Porto. É a primeira experiência da Cooperativa de Assessoria Técnica, Habitação e Urbanismo – CATHU.

Este desafio não é assumido a solo, contando com várias e imprescindíveis parcerias. Entre elas, o Gabinete de Ação Social da Junta de Freguesia de Campanhã, que sinalizará o imóvel a reabilitar e os futuros moradores; a PELE – Espaço de Contacto Social e Cultural, que promove a experimentação artística como espaço de diálogo e criação coletiva; o Grupo de Estudos sobre Economia Solidária do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, focado no processo cooperativo do trabalho na construção civil e no estímulo de dinâmicas coletivas e socioeconómicas no território; e a Comunidade de Inovação Pedagógica da Universidade do Porto – Porto: Territórios e Redes de Invisibilidade, que fomenta a participação estudantil, transformando a experiência em espaço letivo. São pessoas que conhecem bem este território e seus habitantes e que garantem uma actuação ancorada no estudo e compreensão do seu contexto social, económico e cultural.

Porquê uma cooperativa? Primeiro, porque se acredita que é possível e desejado que se organize o trabalho e se tomem as decisões de forma radicalmente horizontal. Mas também porque, enquanto cooperativa, contribuirá para um modelo socioeconómico sem fins lucrativos, que se preste como mecanismo de resposta à crise habitacional agravada pela pandemia.

Este modelo, inscrito na economia social e solidária, justifica-se como alternativa à desigualdade no acesso ao mercado de habitação, a insuficiente oferta de um parque habitacional público e a necessidade de estruturas de produção habitacional que cruzem profissionais e comunidades locais em processos de gestão horizontal e participada. Constitui-se assim uma equipa de profissionais que trabalhará em cooperação com a população, articulando-se com o terceiro setor e com o poder local na execução de políticas públicas de habitação.

É nesse sentido, e também para estímulo à participação comunitária, que se entende o processo de obra como um lugar de partilha e aprendizagem, complementando assim o desígnio de assessoria técnica. Entender o projeto-obra como prática política é um dos objetivos desta proposta: uma abordagem multidisciplinar, integrando técnicos, projetistas, assistentes sociais, estudantes, construtores e moradores, como um sujeito coletivo, que se vai consolidando em iniciativas como oficinas, assembleias e convívios.

Objetivos e aspirações dos integrantes da CATHU.
Objetivos e aspirações dos integrantes da CATHU.

A CATHU é um sonho em construção, com muitos e diferentes pilares. Por um lado, queremos esclarecer o falso dilema entre trabalho, responsabilidade social e cidadã e ativismo — dedicar o exercício profissional à coisa pública e comum e à melhoria das condições de habitabilidade não tem que significar precariedade laboral. Queremos provar a importância do trabalho em arquitetura e urbanismo para a transformação social, contribuindo para a diminuição das desigualdades, resgatando para a profissão um otimismo que parecia mais do âmbito da nostalgia. Por outro lado, queremos demonstrar a possibilidade de um exercício profissional que não se afaste da investigação e da contribuição para o debate crítico e teórico. Através da edição de publicações, participação e organização em eventos, e de um serviço de consultadoria.

Olhamos para a realidade que nos cerca e sabemos que precisamos de agir. Queremos que a CATHU seja esse espaço de ação, não só palpável nos territórios, mas também nas formas como pensamos e compreendemos as cidades — as suas desigualdades e conflitos —, e o respetivo papel transformador da intervenção arquitetónica, tanto nas condições de trabalho como na realização do direito à habitação.