Fotografia Adriano Miranda/PÚBLICO
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"Mulheres em Construção!" no Público

Projecto de formação em construção civil surge no âmbito do programa Bairros Saudáveis e quer ajudar as mulheres a terem autonomia para realizarem arranjos nas suas casas ou até começarem uma nova vida profissional.

Artigo de Maria José Santana publicado no Público e P3 a 22/11/2021

Mulheres de um bairro de Aveiro vão deixar de “chamar um homem” para as reparações lá em casa

Projecto de formação em construção civil surge no âmbito do programa Bairros Saudáveis e quer ajudar as mulheres a terem autonomia para realizarem arranjos nas suas casas ou até começarem uma nova vida profissional.

Mais de uma dezena de moradoras do Bairro de Santiago, em Aveiro, vão ter a oportunidade de aprender a rebocar paredes, colocar mosaicos ou a realizar consertos ao nível da canalização. De Dezembro a Abril, irão receber formação na área da construção civil, no âmbito de um projecto que pretende dar-lhes autonomia para realizarem arranjos e melhorias nas suas casas ou até para começar um novo percurso profissional. O Mulheres em Construção surge no âmbito do programa Bairros Saudáveis, por iniciativa da associação Mulheres na Arquitectura, e já cativou o interesse de várias entidades, que se associaram ao projecto como parceiras. Na sexta-feira, há sessão pública de apresentação, mas as acções para a captação das futuras formandas já estão em curso.
Ao participarem em reuniões promovidas por alguns movimentos de defesa do direito à habitação – de que é exemplo o Morar em Lisboa –, as responsáveis pela associação Mulheres na Arquitectura perceberam que “havia mulheres com situação habitacional muito precária e sem condições, nem autonomia, para realizar pequenos consertos”, refere Isabella Rusconi. “Estas mulheres, que já tinham situações de vulnerabilidade preexistentes, tinham a sua situação agravada porque a habitação estava a deteriorar-se de uma forma muito rápida e muito grave”, evidencia, por seu turno, Patrícia Robalo, outra das mentoras do Mulheres em Construção.
Começava, assim, a germinar a ideia de avançar com uma iniciativa que capacitasse as mulheres para melhorarem as suas próprias casas. Inicialmente, o projecto começou a ser equacionado para Lisboa, mas as responsáveis pela associação Mulheres na Arquitectura não tardaram a mudar de ideias. “Lisboa e Porto acabam por receber todas as atenções, todos os fundos”, repara Patrícia Robalo. A escolha acabou por recair no bairro de Santiago, em Aveiro, muito por conta da experiência e dos contactos que haviam sido estabelecidos aquando da dinamização do Lab Cívico de Santiago.
A proposta não tardou a merecer o apoio das colectividades que trabalham no bairro, nomeadamente as Florinhas do Vouga e a associação Mon Na Mon. A elas juntaram-se também outras entidades, como é o caso da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património, União de Freguesias Glória e Vera-Cruz, bem como algumas empresas privadas (Cimave, Savecol e Civilria).

Vários meses de formação
Concretizada e aprovada a candidatura ao programa Bairros Saudáveis, o Mulheres em Construção arranca oficialmente no final desta semana. Quinta e sexta-feira, às 15h e às 10h, respectivamente, no auditório do IPDJ de Aveiro, há sessões “café conversa” com vista a apresentar o explicar o projecto às potenciais interessadas. Também na sexta-feira, às 18h, no auditório da Casa da Comunidade Sustentável, acontece a apresentação pública do projecto que se chama, propositadamente, Mulheres em Construção, em vez de Mulheres na Construção. “Temos muito presente esta ideia de emancipação destas mulheres, não só a sua emancipação técnica, profissional, mas também enquanto cidadãs”, vinca Patrícia Robalo.
As sessões de formação terão início em meados de Dezembro e contam com o apoio do IEFP. Haverá, também, uma componente formativa a cargo da associação Mulheres na Arquitectura, com vista a ensinar as formandas a olharem para a sua habitação e aprenderem a fazer o diagnóstico da sua casa. “E também vamos fazer uma leitura do espaço público, do entorno onde vivem”, desvenda Isabella Rusconi. Para o final da formação, Abril, está prevista a aplicação directa dos conhecimentos adquiridos numa obra de reabilitação de espaço de uso colectivo. “A proposta que fizemos era para fazer uma intervenção numa loja que está abandonada aqui no bairro, loja essa que, depois de reabilitada, ficaria para usufruto da comunidade e das associações locais. Mas não houve resposta ainda da parte da Câmara de Aveiro”, contam.
A alternativa pode passar por reformular o espaço Meninarte, das Florinhas do Vouga, mas as promotoras do Mulheres em Construção ainda têm esperança de arranjar um espaço para o projecto. Tanto mais porque há a intenção de “criar um banco de materiais e ferramentas, aproveitando o material que está a ser doado por várias empresas, que pudesse ser usado por toda a comunidade”, acrescentam.